Nunca
fui pessimista.
Mas
sempre gostei do Esperando Godot, do Beckett.
Sempre
achei estranho, sempre me falavam do existencialismo, da
transitoriedade, do absurdo da vida e tal... Sempre que ouço esse
papo me dá um pouco de sono. Me lembra papinho cabeça de
intelectualzinho brasileiro que ainda está preso à colonização da
cultura francesa. Soninho. Mas eu gostava do Godot.
Relendo
a peça eu entendi por que: eu gosto, pois, dos personagens serem
palhaços. Todo o diálogo lembra o burlesco e há cenas inteiras de
humor físico na tradição pastelão.
Resumindo:
existencialismo é ótimo!
Desde
que se entenda que a vida é uma comédia e que nós somos os
palhaços!
Se
misturar existencialismo com melodrama, aí a vida vira aquela
chatice de depressão francesa.
Se
misturar com tragédia vira os livros do Camus, que foram legais na
adolescência, mas não se aplicam à vida adulta.
Lendo
o Godot me lembrei do fantástico prefácio do livro “Pastelão, ou
Solitário Nunca Mais”. Nesse prefácio, Kurt Vonegut (o maior
existencialista palhaço de todos os tempos) analisa como O Gordo e O
Magro são a melhor lição que um ser humano pode ter para a vida.
Pois
o existencialismo tem que ser cômico.
Resumindo:
Não
é que a vida não tem SENTIDO.
É
que a gente só sabe o sentido dela depois de viver!
Na
vida a gente não é autor, nem roteirista, nem diretor.
É
só personagem. Todos os personagens nossos são – do ponto de
vista do narrador - grandes palhaços. Nada mais engraçado do que um
personagem melodramático reclamando da vida. Ou do que um personagem
dominado pelo cérebro.
Há
momentos de dramas reais, como todo bom filme do Chaplin.
Mas
a essência é de palhaço!
Quem
sabe disso pode, quando muito, se tornar um escada de palhaços.
Quando muito. E recomendo que deixe vir seus momentos de palhaçada
completa.
Pois
precisa.
Quando
aceitamos que somos apenas palhaços acalmamos e podemos curtir, tudo
que nos resta é fazer direitinho nosso papel.
Como
diria Vonegut, num trecho do citado prefácio:
“A
base do humor do Gordo e o Magro, creio eu, era que eles se
esforçavam ao máximo em cada prova que tinham pela frente.
Nunca
deixavam de enfrentar de boa fé o seu destino, e eram
fantasticamente adoráveis e engraçados na tentativa.”
Gordo
e Magro são o existencialismo popular. O existencialismo sem firula
francesa, o existencialismo poético da vida real.
O
existencialismo foi importante para trazer aos orgulhosos
intelectuais de um país colonizador falido a consciência de que sua
vida é transitória. Que mesmo com toda sua produção artística,
toda sua cultura, eles são apenas mais uma peça no tabuleiro do
grande espetáculo da vida.
Sartre
e os existencialistas foram fundamentais para despertar essa
consciência entre intelectuais e o fez no tom serio-dramático da
filosofia tradicional. Mas basicamente, o que o existencialismo fez
foi traduzir o Gordo e Magro para a grande filosofia.
Essa
humildade vem da consciência da transitoriedade que as classes
populares sempre tiveram. E se o tom sério-dramático do
existencialismo acabava levando ao suicídio, o tom leve da comédia
acaba levando a uma vida ainda mais plena.
A
comédia popular sempre mostrou que o que importa é participar da
vida com presença, contribuir para essa improvisação aparentemente
amalucada com a confiança de que a equipe é boa e o roteirista
talentoso, que no final vai ficar tudo claro e tudo vai fazer
sentido.
E
ter como princípio básico: contracenar com nossos colegas de palco!
Tal
como um bom palhaço!
Pois
o que importa é que a peça fique boa!
Por
tudo isso chegou a hora de superarmos o existencialismo
sério-dramático e alcançarmos o existencialismo lúdico.
Um
existencialismo baseado em presença, participação, confiança em
deus (o autor) e alegria!
Um
existencialismo palhaço.
Por
isso, meu site e meu livro são, antes de tudo, obras de um palhaço!
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