Considerando
a hipótese (bastante razoável, admito) de que a vida não faz
nenhum sentido. Nesse caso, o que nos resta fazer? Inventar um, uai!
A
vida pode até não fazer sentido algum, mas umas coisa é certa: o
ser humano é craque em inventar sentidos para a vida. Eu mesmo já
inventei uns cinco. Vire e mexe eu mudo. Todos inventam. Quem é
menos criativo pode ir a uma livraria e encontrar centenas de
"sentidos para a vida" prontinhos para o uso. É super
tranquilo e vende a preços módicos. Só não encontra um sentido
quem realmente não quer.
Ou
quem tem a piração "da verdade". A tal da "verdade".
Não entendo isso.
Não
é porque alguma coisa é falsa que vou deixar de acreditar nela.
Nada
a ver. Eu sou livre, acredito no que quiser, não fico preso a tal da
”verdade".
Não
sei por que lembrei agora de meu pai. Ele tem essa pira da verdade.
Lembro
que ele adorava filmes do Rambo até o dia que percebeu, após anos e
anos assistindo, que não tem nenhum sentido aquelas balas que batem
no chão enquanto o herói foge delas. Porque as balas bateriam no
chão? Eles podem até errar o alvo, mas não cairiam no chão e,
muito menos, logo atrás do herói. Obvio, mas ele nunca tinha
pensado nisso.
Ele
acreditava.
Quando
percebeu esse "erro" ele parou de ver os filmes de guerra:
"é muita bobagem!”, disse ele. Ele quer algo de verdade.
Deve
ser por isso que nunca conseguiu acreditar "de verdade" em
nenhuma religião "de mentira" e, por isso, que esta tão
sem crença aos oitenta anos. Ele foi prisioneiro da verdade. Eu
prefiro me libertar disso.
A
vida pode ser assistida tal como eu assisto a um filme do Rambo. Eu
tenho o poder de acreditar na convenção que eu quiser. Para ser
preciso a vida parece um imenso e infinito conjunto de salas
multiplex aonde vários filmes paralelos são exibidos
simultaneamente. Cada um de nós escolhe assistir e participar do
filme que quiser. Pode ser um drama familiar, uma disputa
empresarial, um filme de herói solitário, um musical. Você escolhe
e vai entrando no filme que escolher.
Basta
escolher bem o filme que terás uma boa vida. Às vezes o filme vai
nuns rumos que você não gosta, mas aí você vai refazendo e, se
necessário, troca de sala.
E
vai levando.
É
claro que, dirá um leitor mais espertinho, o filme do Rambo não
mata.
Se
eu for para a guerra achando que a vida é um filme do Rambo a bala
não vai bater no chão e vou virar peneira na primeira ação
heroica. Por isso, dirá o leitor mais científico, eu tenho que
acreditar na "verdade".
É...
Tem certo sentido, admito... Mas isso é meio obvio: só vou escolher
acreditar no filme que eu for feliz e não virar peneira. Não vou
escolher uma crença (ou uma filosofia, uma religião) que me
destrua... Tem uns que escolhem e explodem como uma bomba. Escolha
deles. Eu acho meio burro e egocêntrico, coisa de quem quer ser
protagonista de filme épico e tragédia grega. É escolha do cara,
fazer o que... Vou só tentar impedir ou tentar ficar longe para ele
não atrapalhar minha linda comedia romântica com o egocentrismo
dele.
Mas
eu não vou entrar nessa. Como não existe verdade eu posso escolher
a verdade que eu quiser. Como eu sou livre vou escolher uma verdade
bem legal. Se eu não gostar de nenhuma verdade disponível no
circuito multiplex da criação ainda posso inventar uma própria e
botar em cartaz. Para não ser autista eu posso lançar uma verdade e
tentar conquistar meu próprio público. Sei lá, faça o que quiser.
Mas não ter verdade alguma é super chato. No caso da vida é ainda
mais chato que no filme do Rambo, pois na vida você não tem nem
como desligar a televisão e ir brincar no parque. Ou tem, mas é
tipo homem bomba e você não sabe o que terá depois. Melhor
garantir o que tem. Você sempre pode trocar de canal até achar um
filme que curta, mas se você não escolher verdade alguma ficará
tipo aqueles públicos que ficam vendo filme só para criticar os
pequenos erros de continuidade...
Acho
chato. Prefiro acreditar na história e me divertir.
Resumindo,
não vou deixar de acreditar no que quero acreditar apenas porque não
é verdadeiro. Eu sou livre e acredito no que quiser e no que me
fizer bem.
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